Entrevista. OOQZA: «Meus personagens são uma projeção dos sentidos e emoções humanas»

A heroína da nossa entrevista de hoje não grita sobre sua fama, não participa de convenções (exceto pela única onde vimos trabalhar por primeira vez), não busca patrocínio. E, aparentemente, isso não é necessário - suas obras sinceras são tão marcantes na memória que até antes de nos encontrarmos, já determinamos em um segundo que a tatuagem era copiada de sua obra (o que não sempre acontece com as obras de outros artistas)!

As emoções de confusão e desespero são uma das condições mais difíceis para qualquer alma, mas elas se tornaram a base para o desenvolvimento do estilo único em que Ooqza, conhecida como Valeria Volokhova, trabalha.

Os olhos dos personagens em suas tatuagens sempre são vazios, tristes, quase sem vida, e às vezes loucos. Parece que a melancolia atrai a atenção de milhares de fãs das tatuagens Ooqza. E hoje há mais de 100.000 fãs de tatuagem do mundo inteiro seguindo sua obra. E isso, é claro, não é o limite - seu estilo artístico já foi copiado por tattooers desonestos, e os clientes estão atacando as redes sociais de Valeria pedindo que ela venha ao seu país para fazer uma tatuagem dela.

- Ooqza, hello! Tell us a little about yourself, where are you from, where do you work now?

- Hello! My name is Valeria, I was born in a small town in the Tula region, about 160 kilometers south of Moscow. There were no creative people in my family, mostly - social workers, I, so to speak, a pioneer, and I am glad that I took the path of freedom and self-expression. Now I have been living and working in Moscow for 6 years. At the moment, I have been doing tattooing for the eighth year, and this is a significant part of my life. Tattooing has brought me many interesting and unexpected acquaintances: artists, musicians, photographers, and of course the experience that I would hardly have received without starting to develop in this profession.

- How and when did you decide to become a tattoo artist?

- Then I was in the third year of university, like a large percentage of tattoo artists, I studied graphic design. I rented an apartment with a friend, and her friends often came to us. They were quite alternative, tattooed, and I did not have a tattoo at that time, and I did not even think that I would ever want to get a tattoo. At such home parties, everyone found out that I was drawing, and this was a reason to assume that I could also tattoo.

Um dos homens sugeriu que eu fizesse um tatoo nele, e eu, sem pensar duas vezes, fui a Moscou e comprei todos os equipamentos por apenas 30 mil rublos. Era o conjunto mais primitivo, mas para o hobby me agradou. O primeiro tatoo foi feito 8 anos atrás na mesma festa de casa, e foi divertido para todos, exceto para mim, que o tomou muito a sério e responsável. Depois, eu não sabia que esse hobby ficaria comigo por um tempo muito longo.

- Como você descreveria seu estilo? Quais características de seu trabalho você destacaria? Como você chegou ao estilo que está trabalhando atualmente?

- Depois, eu tive um período muito difícil na minha vida, minha mãe morreu, e eu estava em um estado de perda absoluta, completamente não sei o que fazer a seguir. Meu amigo me apoiou nesse período, ele viu que eu desenho muito, e também sabia que desde o início da minha jornada na tatoo, eu estava procurando meu próprio estilo.

Uma vez ele perguntou por que eu não desenho anime ... Pareceu que eu recebi minha visão. Eu não entendi por que essa ideia não aparecia em minha cabeça antes. Eu fui inseparável do anime desde a infância, desde os 13 anos. Sua pergunta foi o início do meu estilo. Essa nova jornada tornou-se meu meio de expressão então. Eu direcionei todos meus sentimentos para desenhar.

Após a análise, posso dizer que em parte eles eram tão escuros e assustadores precisamente por causa da minha condição. Em breve, comecei a receber muita atenção do meu trabalho, e minhas imagens ressoaram com as pessoas. Até hoje, de todas as minhas esquis, são as mais copiadas no mundo todo.

Agora meu estilo é diferente do inicial. Eu maturei, e os temas também se maturaram comigo, tornaram-se mais reflexivos e elaborados. Eu me concentro em detalhes e elegância no design. Eu chamo meu estilo de anime gótico, embora não seja realmente anime. Algo de minha própria criação, uma mistura de tudo o que eu gosto. Eu uso linhas finas em combinação com grandes pontos negros densos, o que dá um bom contraste, e recentemente eu gosto de adicionar um tom vermelho. Isso dá romance e paixão à imagem. Um clássico eterno, mas todos aplicam de forma diferente.

De fato, consegui criar um estilo único ao ver que as pessoas que me tatueiam entendem que foi Ooqza quem fez isso.

- Quem são eles - as heroínas das suas tatuagens? Conte-nos como suas imagens são nascidas.

- Meus personagens são projeções de emoções e sentimentos humanos. Eles não são sempre positivos, não são sempre os mesmos que queremos, mas quero ver coisas belas e estéticas em tudo. A estética da melancolia ressoa comigo, por exemplo, como no caso da pintura de Millet Ophelia, uma garota tão líquida, no limiar da vida, e bela ao mesmo tempo. Isso é empatia, posso ver a história por trás da pintura, posso adivinhar o que aconteceu com ela antes de cair na água, quais emoções ela experimentou.

Da mesma forma, eu me preparo para o desenvolvimento do esboço - penso em como meu personagem se sente e por quê. Os artistas conceituais têm uma abordagem semelhante quando há uma história e você sabe a história pessoal do personagem, suas qualidades pessoais.

É extremamente importante para mim com que humor o cliente vê seu futuro esboço. No início da discussão de uma ideia, eu sempre pergunto qual emoção ela vai provocar. Isso me dá uma melhor compreensão do personagem e, assim, minimiza a possibilidade de eu não entender o cliente. Um tipo de sinergia entre mim e a pessoa que me endereçou.

- O que te inspira como artista? Há artistas de tatuagem que te inspiram?

- Pessoas! Seus sentimentos internos, emoções, estética da pureza, como uma característica distinta da arte japonesa. Quero dizer que a simplicidade e a concisão visual que é inerente ao Oriente. Não me inspiro no trabalho de outros tatuadores, mas há muitos ilustradores que seguo, que principalmente pintam no mesmo tema asiático. Para mim, a única forma de me inspirar algo é encontrar uma emoção ou uma situação que eu própria experimentei, que deixou algum tipo de marca. Se uma pintura não tem o espírito do artista, ele não encontrará o seu espectador, não provocará uma resposta no coração do observador. Assim, através do meu trabalho, eu transmuto-me, uma pessoa real.

Eu me inspiro, é claro, nas avaliações de meus trabalhos, é inspirador que eu possa inspirar alguém! É uma sensação indescrevível quando estranhos te agradecem por ter sido uma motivação para eles crescerem e desenvolverem. Isso é, você enviou remotamente uma pessoa em uma direção e melhorou sua vida!

- Como você se sente sobre o fato de que seu estilo ou imagens das heroínas de suas tatuagens são copiadas?

-  Antes, quando começou, era muito desagradável, agora estou mais calmo com a cópia. Claro, não é bom que as pessoas ganhem dinheiro com meu trabalho e não façam nada por si mesmas, eu desenho todos os esboços para uma pessoa específica e coloco significado em cada desenho, mas para a maioria que copia, é apenas uma imagem sem nome da internet.

“I just found it on the Internet, you posted it yourself, so you allowed everyone to use the sketch” is the most common excuse. Alas, no, it doesn't work that way. I always say that a picture appeared on the Internet for a reason, and everything that is posted there has an author, and with it copyrights. Nothing happened by itself. All my works are signed and a person can contact me for an individual sketch, drawn with a soul and just for him.

On the other hand, of course, copying is part of the popular style. A lot of people like what I do, so they want the same tattoo for themselves and repeat the sketches. Perhaps this is a confession.

Copying is a phenomenon that has two opposite sides, and will always bring both joy and resentment. My policy now is that if you have no control over the situation, let it go.

- What difficulties did you face as a tattoo artist on your way?

- The complexity, perhaps, was in the information, or rather, in its absence. In the city where I started tattooing, there were no good tattooers to teach me "how to do it right", so I had to try different ways of tattooing intuitively. This, of course, took a long time. To all novice tattoo artists who are now reading this interview, I would advise you to take the time and get to a professional who is close to you in style, and who will explain the basics to you, which will clearly accelerate your professional growth.

Since I work with people directly, it is obvious that it was difficult to guess the client's idea of a tattoo. But this was at the beginning, when my portfolio was not formed, and the client did not fully understand what he would get in the end. Now there is no such problem, I have developed my own method of communicating with the client, when we understand each other. Even if he / she says he doesn't quite know what he wants, it's definitely a tattoo in my style, and there is usually some common ground initially. I ask a few questions that help me come up with the image and draw. They trust me a lot, the choice of posture, details, decorations, surroundings ... When there was no trust it was difficult, and it's good that this moment is far behind.

- Do you travel for work? Tell us about your experience.

- A huge number of foreign clients from the USA, almost all European countries, Australia, Brazil, Japan write to me. That is why I have thought many times about obtaining a work visa in order to implement all the many projects that await me in different parts of the world. Some clients do not wait and travel to Moscow in order to get to my session, so my tattoos are in all countries of Central Europe.

Agora estou ativamente trabalhando para obter os documentos de viagem necessários e espero que tudo funcione bem para mim!

- Conte-nos sobre sua experiência de participar de convenções. Você tem algum prêmio?

- Nunca considerei necessário participar de convenções, sempre achei que era terrivelmente desconfortável ter muitas pessoas ao redor, multidões! E eu não via a necessidade profissional, era sempre bom com a reserva, eu não precisava de patrocínios e prêmios, mas este ano fui convidado pelo gerente da marca Wjx para representar sua empresa na convenção e decidi dar a experiência uma tentativa. Como fiquei surpreso com a experiência positiva que tive! Eles me reconheceram, me abordaram, perguntaram e me fizeram fotos! Tudo foi excelente! Mudei completamente de ideia sobre convenções.

Na Convenção de Tattoo de Moscou, comecei um trabalho muito bonito e, com grande arrependimento, não tive tempo de terminá-lo no início da julgamento, mas coloquei-o de qualquer forma. Definitivamente tive uma chance de ganhar o Prêmio de Melhor Trabalho aquele dia se eu tivesse terminado.

Eu não me arrependo em nada de ter participado, foi uma excelente estreia! Experiência fria! Vou participar certamente de outras convenções em outras cidades e países.

- Quem são seus clientes? Eles têm algo em comum?

- Sim, certamente! Muitos fãs de anime, mangas, muitos sonhadores e pessoas criativas. O outro ponto em comum é que gostam das minhas ilustrações, elas compartilham minha sensação e compreensão do belo, e muitas escolhem carregar sempre minha esquisse. Nós realmente somos parecidos. Eles todos são um pouco eu.

- Você prepara qualquer evento pessoal, atividade?

- Recentemente, dei uma palestra para artistas de tatuagem sobre como encontrar seu próprio estilo em uma tatuagem e como torná-la popular. Eu realmente gostei de compartilhar minha experiência, e planejo continuar fazendo isso. Estou planejando dar conteúdo educacional, mas agora online e em duas línguas, inglês e russo. Ele estará disponível no meu site em breve.

Estou também atualmente focado em criar roupas com meus personagens. A primeira ilustração que será usada em camisetas foi desenhada no pico do lockdown. Desenhei-a por um mês, praticamente sem sair de casa! Um período muito interessante da minha vida e muito produtivo em termos de criatividade e auto-desenvolvimento.

- Qual conselho você daria a si mesmo como artista de tatuagem 5 anos atrás?

- Você sabe, realmente sentei e pensei sobre esse assunto, e não achei nenhum conselho para mim. Talvez eu tenha feito tudo certo, que Valeria, inexperience, era boa! Eu ouvi a mim mesmo, ninguém me limitou nas minhas ações, desenvolvi e tentei novas coisas. Tentei de novo, se não funcionar, experimentei. Eu abraçaria ela e diria que você está no caminho certo, continue assim!

Para os leitores, quero destacar a importância de acreditar no que você está fazendo e em si mesmo. Quando eu digo o caminho certo, quero dizer o caminho certo para você, para todos. Não há um caminho certo universalmente aceito, pois não há uma única forma para todos. Ninguém sabe o que é melhor para você, exceto você mesmo, e os erros são uma razão de gratidão pela experiência, você não deve ter medo deles.